segunda-feira, 6 de abril de 2015

Momento de Prosa Com Adelson Boris


Estreando o nosso primeiro Momento de Prosa de 2015, temos a honra e o prazer inenarrável, em prosear com um dos maiores Artistas do Nosso Estado, ele que leva cores e pinta personalidades negras no cotidiano do seu trabalho, nada mais, nada menos, estamos proseando com o Artista Adelson Boris.


Pernambuco Afro Cultural.Quem é o Adelson Boris? Como começou seu processo artisticamente proseando?

Adelson Boris é um artista urbano, tatuador e ilustrador. Pernambucano, mora na cidade de Recife exclusivamente no bairro do Totó a mais de 20 anos, filho de dona Raquel, e que vê a arte como um grande instrumento para combater o racismo e toda forma de opressão.  Comecei a entrar no mundo das artes no ano de 2003 aos 13 anos, em um curso de graffiti no centro social urbano do meu bairro, ministrado por MOA (ex-subgraf). Eu já via algumas manifestações urbanas e aquelas imagens gravadas nas paredes me chamavam a atenção, foi então que decidi fazer o curso para aprender aquela técnica, mas fui logo surpreendido, que fosse necessário ter uma noção de desenho, e eu só sabia fazer aqueles palitinhos com bolinhas (risos)... Durante o curso comecei a praticar e estudar desenho... Logo o que era impossível, foi ficando cada vez mais claro e perto de onde eu queria chegar, e conclui que não era a minha mão que desenhava, era os meus olhos, o olhar diferenciado para as coisas me facilitou a desenhar, e vi que não era preciso ter “dom”, e essa experiência eu levo para a cada oficina que vou ministrar.     


Pernambuco Afro Cultural. Você sempre realiza desenhos de personalidades negras, exclusivamente mulheres, por que deste fazer?



Adelson Boris. 

O estímulo e influência para o meu trabalho vem do meu contexto familiar e comunitário, pois moro na periferia e nasci em uma grande família negra de base matriarcal, são tias, primas, irmã, noiva, mãe e avó que influenciam minha vida e fortalecem minha resistência. Todas elas mulheres negras, fortes e guerreiras que superaram os processos de exclusão das mais variadas formas de racismo vigentes na nossa sociedade. Através da arte resolvi homenagear essas mulheres, que infelizmente no contexto do nosso país e do mundo ainda são invisibilizadas. Eu vejo o graffiti como uma ferramenta de denúncia e comunicação, e toda vez que termino um trabalho, eu espero ele atingir o maior número de mulheres negras possíveis e a população de forma em geral, como forma de valorização desse segmento da população e elevando assim a alta estima desse grupo, para que percebam as imposições que seus corpos sofrem pelos padrões estéticos que a mídia e a sociedade lhe impõem. Tenho a visão que meus graffitis possam contribuir no processo de conscientização da população, e assim as mulheres negras entendam, que não há nada de errado com o seu cabelo, seu nariz, sua boca e sua cor. Que elas se vejam nas representações artísticas e que entendam que não é preciso alterar sua identidade para ser referência nos padrões estéticos.

Pernambuco Afro Cultural.Como você percebe o mercado de arte com a temática do seu trabalho?

Adelson Boris.
Vivemos numa falsa democracia racial, onde se diz que o negro e o branco têm as mesmas oportunidades e direitos, logo quando algum artista ou um produtor negro que tem seu trabalho com víeis racial e tentar expor nas grandes galerias, ele é totalmente excluído, porque no Brasil, negro falar de racismo ele está incitando o racismo. Aí vem um branco se empodera do que é nosso e logo tem um espaço para ele, pois ele usa nossa cultura apenas como um fetiche, o exótico, o fantástico e não como uma arte que venha causar reflexão e conscientização na sociedade. Por isso é de extrema importância que nós, negros e negras se empoderar sobre nossa cultura de raiz, nos valorizar, nos amar, criar espaços afros que permitam a gente dialogar e juntar forças, porque só assim é que vamos destruir esse sistema de exclusão.      


Pernambuco Afro Cultural.Entre todos os seus belíssimos trabalhos, qual você gosta mais?

Adelson Boris.

Gosto de todos, a cada ilustração que faço é como se fosse um filho. Mas tem um que tenho um carinho especial, que é uma das minhas primeiras ilustrações em aquarela que é o rosto de minha amiga “Gina”. Ela tinha acabado de fazer um ensaio fotográfico para um projeto do nosso amigo e fotógrafo Cléo Santana, e ela postou a foto no perfil do facebook e quando eu vi já fiz uma “intimação” a ela para pintar aquela fotografia, pedi autorização ao fotógrafo e um dia após eu iria pintar, só que na mesma noite acabei meio que sonhando com aquele quadro já pronto, foi algo mágico. Queria criar um cenário que combinasse com a imagem, foi aí que veio a ideia de ver pássaros saindo do cabelo do crespo causando uma afirmação da identidade negra. Gosto muito dessa ilustração porque acho que depois dela meu traço ganhou uma originalidade.



Pernambuco Afro Cultural. Você desenvolve algum trabalho sócio educativo? Onde?

Adelson Boris.

Sim. Faço parte e sou fundador da ONG cores do amanhã. O Cores do Amanhã é uma associação sem fins lucrativos, um grupo formado por educadores, artistas plásticos, grafiteiros, b-boys, mc's, Dj's, artesãos, músicos, e artistas de diversas áreas que buscam levar cultura e cidadania através da arte e do Hip Hop para o Estado de Pernambuco e outras Regiões. A sede fica localizada no bairro do Totó, onde atingimos uma estimativa de 200  crianças, jovens e adultos do bairro. Temos oficinas de capoeira, karatê, percussão, dança, graffiti, teatro, aulas de violão e canto.


Pernambuco Afro Cultural. Você participa de algum Grupo que dialoga sobre a questão étnico racial?

Adelson Boris.

Não, porém estou sempre lendo e pesquisando textos, livros e artigos com recorte racial.

Pernambuco Afro Cultural. O que você diria para um/a iniciante, que graffita, pinta, mas não faz isto de forma profissional?


Adelson Boris.

Diria que é possível viver de arte, é possível viver fazendo aquilo que a gente gosta, mas para que isso aconteça, requer muita dedicação e persistência com o seu trabalho, não é nada fácil viver de arte no Brasil, mas a oportunidade sempre chega e temos que está preparado para que ela não passe voando em nossas mãos.


O Pernambuco Afro Cultural agradece de coração ao Artista Negro Adelson Boris, por este grandioso Momento de Prosa, que aumenta significativamente o nosso respeito, pelo seu fazer e visão social. Axé e muito sucesso e que seu fazer continue,conscientizando e levando personalidades negras para ruas do mundo!

Serviços:

1ª Exposição do Adelson


Contatos:

Celular: (81) 8812-5067

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