MILITANTE E FONTE DE INSPIRAÇÃO PARA LITERATURA NEGRA DA ATUALIDADE
Nasceu em Recife no ano de 1908 no bairro de São José, considerado o poeta do povo - o poeta negro de todos os tempos!
CONVERSA
- Eita negro!
quem foi que disse
que a gente não é gente?
quem foi esse demente,
se tem olhos não vê…
- Que foi que fizeste mano
pra tanto falar assim?
- Plantei os canaviais do nordeste
- E tu, mano, o que fizeste?
Eu plantei algodão
nos campos do sul
pros homens de sangue azul
que pagavam o meu trabalho
com surra de cipó-pau.
- Basta, mano,
pra eu não chorar
E tu, Ana,
Conta-me tua vida,
Na senzala, no terreiro
- Eu…
cantei embolada,
pra sinhá dormir,
fiz tranças nela,
pra sinhá sair,
tomando cachaça,
servi de amor,
dancei no terreiro,
pra sinhozinho,
apanhei surras grandes,
sem mal eu fazer.
Eita! quanta coisa
tu tens pra contar…
não conta mais nada,
pra eu não chorar -
E tu, Manoel,
que andaste a fazer
- Eu sempre fui malandro
Ó tia Maria,
gostava de terreiro,
como ninguém,
subi para o morro,
fiz sambas bonitos,
conquistei as mulatas
bonitas de lá…
Eita negro!
- Quem foi que disse
que a gente não é gente?
Quem foi esse demente,
se tem olhos não vê.
POEMA AUTOBIOGRÁFICO
“Quando eu nasci,
Meu pai batia sola,
Minha mana pisava milho no pilão,
Para o angu das manhãs…
Portanto eu venho da massa,
Eu sou um trabalhador…
Ouvi o ritmo das máquinas,
E o borbulhar das caldeiras…
Obedeci ao chamado das sirenes…
Morei num mucambo do “”Bode”",
E hoje moro num barraco na Saúde…
Não mudei nada…”
Conta-me tua vida,
Na senzala, no terreiro
- Eu…
cantei embolada,
pra sinhá dormir,
fiz tranças nela,
pra sinhá sair,
tomando cachaça,
servi de amor,
dancei no terreiro,
pra sinhozinho,
apanhei surras grandes,
sem mal eu fazer.
Eita! quanta coisa
tu tens pra contar…
não conta mais nada,
pra eu não chorar -
E tu, Manoel,
que andaste a fazer
- Eu sempre fui malandro
Ó tia Maria,
gostava de terreiro,
como ninguém,
subi para o morro,
fiz sambas bonitos,
conquistei as mulatas
bonitas de lá…
Eita negro!
- Quem foi que disse
que a gente não é gente?
Quem foi esse demente,
se tem olhos não vê.
POEMA AUTOBIOGRÁFICO
“Quando eu nasci,
Meu pai batia sola,
Minha mana pisava milho no pilão,
Para o angu das manhãs…
Portanto eu venho da massa,
Eu sou um trabalhador…
Ouvi o ritmo das máquinas,
E o borbulhar das caldeiras…
Obedeci ao chamado das sirenes…
Morei num mucambo do “”Bode”",
E hoje moro num barraco na Saúde…
Não mudei nada…”
TEM GENTE FOME
Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Piiiiii
Estação de Caxias
de novo a dizer
de novo a correr
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Vigário Geral
Lucas
Cordovil
Brás de Pina
Penha Circular
Estação da Penha
Olaria
Ramos
Bom Sucesso
Carlos Chagas
Triagem, Mauá
trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Tantas caras tristes
querendo chegar
em algum destino
em algum lugar
Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Só nas estações
quando vai parando
lentamente começa a dizer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
Mas o freio de ar
todo autoritário
manda o trem calar
Psiuuuuuuuuuuu
Opiniões sobre a obra de Solano Trindade:
Carlos Drumond de Andrade, em carta a Solano, 02/12/1944: "A leitura dos seus versos deu-me confiança no poeta que é capaz de escrever Poema do Homem e O Canto dos Palmares. Há nesses versos uma força natural e uma voz individual, rica e ardente, que se confunde com a voz coletiva."
Roger Bastides, sociólogo e escritor francês, viveu no Brasil entre 1938-1954, autor de "A Poesia Afro-Brasileira", tradutor de "Casa Grande & Senzala" para o francês: "O senhor faz dos seus versos uma arma, um toque de clarim, que desperta as energias, levanta os corações, combate por um mundo melhor."
Darcy Ribeiro, no livro "Aos Trancos e Barrancos – Como o Brasil deu no que deu", 1985: "O Teatro Experimental do Negro funcionou como um núcleo ativo de conscientização dos negros, para assumirem orgulhosamente sua identidade e lutar contra a discriminação".
Abdias do Nascimento, escritor e político negro: "Entre os raros poetas negros que conheço neste Brasil mestiço, Solano Trindade é o que melhor me satisfaz. Ele é negro, sente como negro, e como tal cantou as dores, as alegrias e as aspirações literárias do afro-brasileiro."
Otto Maria Carpeaux, escritor e crítico literário: "Uma estante num armário meu está reservada para os poetas brasileiros. Não são muitos que guardo, e os que não pretendo reler estão atrás. Às vezes, conforme as mudanças violentas do meu gosto, mudam de lugar, saindo para a 1a. Há alguns que já mudaram várias vezes de lugar. O seu volume, que considero uma pequena preciosidade, entrou hoje na 1a fila; espero que continuará lá até, um dia, um leiloeiro apregoar as coisas que deixei ao descer para a cova e gritar: ‘Volume de Solano Trindade, raro, valorizado por dedicatória do poeta ao defunto!’"
Nestor de Holanda, escritor, compositor e crítico, autor de "Itinerário da Poesia carioca", sobre o livro Poemas de uma Vida Simples: "A cor preta no Brasil está tendo agora, com o surgimento de Solano, o seu primeiro poeta nato, o seu primeiro cantor negro. Solano Trindade é o maior preto que a poesia negra possui. E nenhum negro interpretou tão bem e com tanto sentimento, até hoje, entre nós, o verdadeiro sentido da poesia preta."
Romão da Silva, escritor e jornalista: "Quem quiser pense ao contrário, mas na minha opinião, Solano Trindade, este grande poeta negro que Pernambuco deu ao Brasil, é o nosso Langston Hughes."
José Louzeiro, escritor: "Convivi de perto com Solano Trindade. Era um intelectual de intensa participação e tinha consciência de que poucos países desenvolvem uma política racista tão bem camuflada quanto o nosso."
Lauro Armando, poeta e escritor: "Grande poeta, grande lutador, grande negro, grande exemplo, enfrentando as barreiras da discriminação racial, com a mesma coragem com que Castro Alves, Luis Gama, Patrocínio e Joaquim Nabuco haviam denunciado as da escravatura."
Sérgio Milliet, poeta, ensaísta e um dos mais importantes críticos literários brasileiros, 1961: "Organizando bailados, editando revistas, promovendo espetáculos e conferências, incansável em sua atividade, poucos fizeram tanto quanto ele pelo ideal da valorização do negro. O livro Cantares ao meu Povo é a tomada de consciência disso a que Sartre chamou de negritude."
Álvaro Alves de Faria: "Solano, na verdade, não tinha muitas preocupações com as escolas literárias da poesia brasileira. Para ele, a poesia era realmente inspiração, aquele estado de espírito aberto ou à beleza ou à angústia. E esse estado Solano usou para falar -pelo menos no início da sua obra poética- de sua cor, na luta do negro quase sempre marginalizado."
Henrique L. Alves: "O criador do Teatro Popular Brasileiro, poeta, folclorista, cineasta figura humana pertencente ao circuito coletivo, está completamente olvidado. A memória nacional adormecida esqueceu o dia 24 de julho, oportunidade em que Solano cruzou o paralelo 70. Figura andante, pisou caminhos e semeou o amor ao folclore na tentativa de preservar nossas tradições através do teatro." (folheto publicado através do Ministério da Educação em 1978, quando Solano Trindade completaria 70 anos)
Edwaldo Cafezeiro: "Ao contrário de Cruz e Sousa, que sublimou no branco as atormentações de sua vida, Solano repousa tudo no seu canto e o seu canto na resistência e no brilho do ébano, do preto."
Canto dos Palmares
Eu canto aos Palmares
sem inveja de Virgílio, de Homero e de Camões
porque o meu canto é o grito de uma raça
em plena luta pela liberdade!
Há batidos fortes
de bombos e atabaques em pleno sol
Há gemidos nas palmeiras
soprados pelos ventos
Há gritos nas selvas
invadidas pelos fugitivos…
Eu canto aos Palmares
odiando opressores
de todos os povos
de todas as raças
de mão fechada contra todas as tiranias!
Fecham minha boca
mas deixam abertos os meus olhos
Maltratam meu corpo
Minha consciência se purifica
Eu fujo das mãos do maldito senhor!
Meu poema libertador
é cantado por todos, até pelo rio.
Meus irmãos que morreram
muitos filhos deixaram
e todos sabem plantar e manejar arcos
Muitas amadas morreram
mas muitas ficaram vivas,
dispostas a amar
seus ventres crescem e nascem novos seres.
O opressor convoca novas forças
vem de novo ao meu acampamento…
Nova luta.
As palmeiras ficam cheias de flechas,
os rios cheios de sangue,
matam meus irmãos, matam minhas amadas,
devastam os meus campos,
roubam as nossas reservas;
tudo isto para salvar a civilização e a fé…
Nosso sono é tranquilo
mas o opressor não dorme,
seu sadismo se multiplica,
o escravagismo é o seu sonho
os inconscientes entram para seu exército…
Nossas plantações estão floridas,
Nossas crianças brincam à luz da lua,
nossos homens batem tambores,
canções pacíficas,
e as mulheres dançam essa música…
O opressor se dirige aos nossos campos,
seus soldados cantam marchas de sangue.
O opressor prepara outra investida,
confabula com ricos e senhores,
e marcha mais forte,
para o meu acampamento!
Mas eu os faço correr…
Ainda sou poeta
meu poema levanta os meus irmãos.
Minhas amadas se preparam para a luta,
os tambores não são mais pacíficos,
até as palmeiras têm amor à liberdade…
Os civilizados têm armas e dinheiro,
mas eu os faço correr…
Meu poema é para os meus irmãos mortos.
Minhas amadas cantam comigo,
enquanto os homens vigiam a terra.
O tempo passa
sem número e calendário,
o opressor volta com outros inconscientes,
com armas e dinheiro,
mas eu os faço correr…
Meu poema é simples,
como a própria vida.
Nascem flores nas covas de meus mortos
e as mulheres se enfeitam com elas
e fazem perfume com sua essência…
Meus canaviais ficam bonitos,
meus irmãos fazem mel,
minhas amadas fazem doce,
e as crianças lambuzam os seus rostos
e seus vestidos feitos de tecidos de algodão
tirados dos algodoais que nós plantamos.
Não queremos o ouro porque temos a vida!
E o tempo passa, sem número e calendário…
O opressor quer o corpo liberto,
mente ao mundo
e parte para prender-me novamente…
- É preciso salvar a civilização,
Diz o sádico opressor…
Eu ainda sou poeta e canto nas selvas
a grandeza da civilização
a Liberdade!
Minhas amadas cantam comigo,
meus irmãos batem com as mãos,
acompanhando o ritmo da minha voz….
- É preciso salvar a fé,
Diz o tratante opressor…
Eu ainda sou poeta e canto nas matas
a grandeza da fé a Liberdade…
Minhas amadas cantam comigo,
meus irmãos batem com as mãos,
acompanhando o ritmo da minha voz….
Saravá! Saravá!
repete-se o canto do livramento,
já ninguém segura os meus braços…
Agora sou poeta,
meus irmãos vêm comigo,
eu trabalho, eu planto, eu construo
meus irmãos vêm ter comigo…
Minhas amadas me cercam,
sinto o cheiro do seu corpo,
e cantos místicos sublimizam meu espírito!
Minhas amadas dançam,
despertando o desejo em meus irmãos,
somos todos libertos, podemos amar!
Entre as palmeiras nascem
os frutos do amor dos meus irmãos,
nos alimentamos do fruto da terra,
nenhum homem explora outro homem…
E agora ouvimos um grito de guerra,
ao longe divisamos as tochas acesas,
é a civilização sanguinária que se aproxima.
Mas não mataram meu poema.
Mais forte que todas as forças é a Liberdade…
O opressor não pôde fechar minha boca,
nem maltratar meu corpo,
meu poema é cantado através dos séculos,
minha musa esclarece as consciências,
Zumbi foi redimido…
Fontes: http://www.pco.org.br/ , http://www.pe-az.com.br/ , http://www.livrariacultura.com.br/
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